Sempre tive vontade de fazer um post sobre processos de obtenção de um rapport mas acabava desistindo por pura preguiça. Recentemente, tive que fazer um artigo para a minha pós-graduação e adivinha qual foi o tema escolhido? Processos de obtenção de um rapport!!!
Resolvi dividir com vocês!!!!(como se esse blog tivesse pencas de leitores).
Mas antes de começar preciso explicar algumas coisas, antes que vocês se perguntem, o que diabo é rapport? Rapport é o nome dado ao módulo que se repete em uma padronagem, é uma palavra de origem francesa que significa padrão. Já fiz um post sobre isso mas faz tanto tempo que achei melhor falar novamente.
Para desenvolver uma estampa ou uma padronagem corrida o criador precisa conhecer algumas técnicas de obtenção de um rapport, algumas são bem simples e de fácil identificação como no caso dos azulejos e dos ladrilhos hidráulicos, outras são mais complexas e só olhos muito bem treinados conseguem identificar onde acaba e onde começa o módulo.
Um exercício que eu recomendo para quem está começando é procurar o módulo em alguma estampa.
Obs.: nem sempre você conseguirá encontrar o módulo, pois o mesmo pode ter sido cortado, como no
caso de um biquíni.
Abaixo um exemplo de um rapport de fácil identificação:
Fig. 01- Projeto que desenvolvi para um blog de culinária. Fonte Própria.
Obs. 02: Não existe uma técnica certa ou muito menos uma errada e sim um projeto bem pensado, levando em consideração o público-alvo e a técnica de impressão utilizada. Por exemplo: Se o público escolhido pertencer a classe C, esse projeto não poderá ser impresso em estamparia digital que encareceria muito o projeto.
As técnicas de obtenção de rapport são chamadas de sistemas de repetição, maneira como o módulo se repetirá na superfície em intervalos constantes. A escolha do sistema utilizado na criação dependerá das especificidades do projeto, e cabe ao criador habilidade para escolher o sistema que melhor se encaixe. Existem diversas possibilidades de encaixe dos módulos ou sistemas de repetição.
Fig. 02- Fonte propria.
Tipos de Sistema
Sistemas Alinhados: Como o próprio nome sugere, no sistema alinhado, os
módulos se mantém alinhados tanto no sentido longitudinal (na vertical) como no sentido transversal (na horizontal).
Nesse sistema, os desenhos podem variar a posição no interior da módulo. Sendo
essas variações podem ser de translação, rotação e reflexão.
Fig. 03-
Sistema de repetição alinhado. Fonte
própria.
Sistemas não-não alinhados: Nesse caso,
os módulos deslocam-se longitudinalmente ou transversalmente, não podendo
apresentar os dois deslocamentos ao mesmo tempo. Esse deslocamento pode ser
determinado pelo designer, sendo o mais comum o deslocamento de 50%. Esses sistemas também oferecem as
possibilidades de deslocamento do sistema alinhado (translação, rotação e
reflexão).
Fig. 04- Sistema de
repetição não-alinhado. Fonte própria.
Sistema progressivo: São os que
encerram a mudança gradual do tamanho das células (dilatação ou contração),
obedecendo às lógicas de expansão predeterminadas. Ex: Fractais e as estrturas
do trabalho de Escher.
Fig. 05- Uma das padronagens de Escher.
Multimódulo: Origina-se a partir da
composição de diversos tipos de módulos menores formando um módulo maior,
aumentando assim a as possibilidades combinatórias. Abaixo, o quadrado com a linha vermelha representa o multimódulo..
Composições sem encaixe: São padronagens que apesar de proporcionarem harmonia
visual não possuem encaixes, apesar de semelhantes, os módulos possuem desenhos
diferentes. RÜTHSCHILLING, 2008). Se encaixam aqui trabalhos artesanais que vão desde de estamparia manual em tecido, tapeçaria e trabalhos manuais em papelaria.
Athos Bulcão desenvolvia módulos (no caso azulejos) simples que podiam ser aplicados livremente, não desenvolvia seu trabalho pensando no encaixe, deixando o resultado final da padronagem nas mãos de quem fosse colocar os azulejos. Apesar de aplicar o conceito de "não-encaixe" dos módulos o resultado final proporciona uma harmonia visual.
Obs.03: Nem todo o trabalho de Bulcão ele aplica o as composições sem encaixe.
Fig. 06- Tapeçaria de Gunta Stolzl.
Na imagem acima, apesar de não haver encaixe o desenho da tapeçaria proporciona harmonia visual. Gunta Stolzl, foi aluna e diretora da oficina de tecelagem da Bauhaus, escola de artes referência para profissionais de design e de arquitetura. Uma curiosidade, apesar dos avanços nas áreas de design e arquitetura introduzidos pela Bauhaus, as mulheres só frequentavam os ateliês de Tapeçaria.
Fig. 06- exemplo de composição sem- encaixe de Athos Bulcão.
Na imagem acima, Painel de azulejos, Centro de Formação e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados - CEFOR, 2003.
Brasília – DF.
Fig. 07- exemplo de sistema alinhado. Translação de Athos Bulcão.
Painel de azulejos, Brasília Palace Hotel, 1958.
Brasília – DF, projeto de Oscar Niemeyer.
Tentei falar um pouco superficialmente dos processos de obtenção de um rapport de forma simples e objetiva.
Caso você queira se aprofundar no assunto recomendo os livros que usei como fonte de pesquisa.
Bibliografia
PIRES, Dorotéia; et al. Design de moda: Olhares diversos. Ed. Estação das letras. Barueri,
2008.
RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. Ed. Rosari.
São Paulo, 2004.
RÜTHSCHILLING, Evelise. Design de Superfície. Ed. da UFRGS.
Porto Alegre, 2008.
beijos e até breve!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário